Conversas que provêm do blogue C de...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Conversas

Se Portugal tivesse mar...

Paris-Telheiras
João Quadros
5/Abril/2012

"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses."

Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco. Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico. 

Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia, sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti… Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.

Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano. Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras… fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar. 

Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl. 

Eu, às vezes penso: o que não poupávamos se Portugal tivesse mar. 

Boa Páscoa. 

Nota: O autor escreveu esta crónica segundo os princípios da Sexta-feira Santa: só peixe, sem referências a carne. E algum vinho… 


6 de abril de 2012

Dia de Páscoa






27 de março de 2012

A mentira pública, Programa de Governo
Se não fosse grave dava para rir

Manuel António Pina no Jornal de Notícias escreveu:

"Nestes nove meses, nós no Governo temos cumprido aquilo que prometemos", garantiu Passos Coelho aos correligionários e ao país durante o Congresso do PSD do passado fim-de-semana. Podia tê-lo dito pondo pudicamente a mão à frente da boca e rindo para dentro como Muttley, mas não: conseguiu dizê-lo com o ar mais sério deste mundo.

Foi aplaudidíssimo. E mais que justificadamente: todo a gente sabe que, como Passos Coelho prometeu, nestes nove meses os portugueses não ficaram sem o 13.oº mês; nem subiu o IVA; nem aumentaram os impostos sobre o rendimento, mas apenas os impostos sobre o consumo; nem "quando [foi] preciso apertar o cinto, não [ficaram] aqueles que têm a barriga maior a desapertá-lo e a folgá-lo"; nem foram "impostos sacrifícios aos que mais precisam" (a Comissão Europeia é que fez mal as contas ao concluir que, em Portugal, "nestes nove meses", as medidas de austeridade exigiram aos pobres o dobro (6%) do esforço financeiro pedido aos ricos (3%); além disso, amigos como Eduardo Catroga, seu braço-direito nas negociações com a "troika", Paulo Teixeira Pinto, autor da sua proposta de revisão constitucional, ou Ilídio Pinho, seu antigo patrão, colocados na EDP, para não falar dos colocados na CGD e em tudo o que é empresa pública, podem testemunhar que, como prometeu, Passos Coelho "não [deu] emprego aos amigos".


16 de março de 2012

A especulação imobiliária



14 de janeiro de 2012

Pasteis de Nata: Acabadinhos de sair do forno

Com a devida vénia ao autor e ao amigo que me enviou este desenho muito ilustrativo da grande problemática nacional.


29 de Novembro de 2011


O Boato


- Ouvi dizer que o Governo vai baixar os ordenados em 50%. Agora é que estamos lixados. 
- Não me digas uma coisa dessas. Como é que eu vou viver se ganho 600 euros passo a ganhar só 300. Isso é uma desgraça total. E defendes tu este governo de ladrões.
- E o pior é que também vão aumentar o horário de trabalho mais uma hora e passamos a trabalhar ao Sábado.
- O quê? Malandros, fdp ladrões. Vai lá para o teu PSD dizer que eu chamei ladrões a toda a cambada de fdp de coelhos e companhia.
O boato espalha-se na empresa. E surgem logo propostas de luta contra mais esse roubo.
- Vamos fazer greve
- Como é que eu vou viver. O melhor é não pagar a renda.
- Partimos isto tudo
- Isso não depois ficamos sem trabalho
- Ficar sem o Sábado! Como é que eu vivo sem os 50% de ordenado e sem o Sábado para os biscates?
- Vamos já prá rua fazer uma manifestação.
- É pessoal esperem aí. Deixa ouvir o noticiário.
Põem-se todos à escuta.
Diz o locutor: - O Governo anunciou que vai baixar os ordenados de todos os trabalhadores em 30%.
Surgem logo novos comentários
- É pá. Afinal é só 30%. Estavas tu a assustar a malta!
- Espera deixa ouvir o resto.
Continua o locutor: - O Governo determinou o aumento de meia hora diária para todos e o regime da "semana inglesa". Passa-se a trabalhar Sábado de manhã.
- Estás a ver! Afinal é só meia hora por dia e meio Sábado. Estavas tu a assustar-nos.
- Seu boateiro.
- Devias era levar uma coça.
- Viva o Governo!
- Vamos já todos para a rua fazer uma manifestação de apoio ao governo.
- Aprovado!

25 de Novembro de 2011

O analfabeto político



19 de Novembro de 2011

Quem tem medo que o medo acabe?

Mia Couto





11 de Novembro de 2011

PORTUGAL E O EURO. 

Entrevista do Prof. Luís Bento , da Universidade Autónoma de Lisboa, à Antena 1.







20 de Outubro de 2011

El Derecho al Delirio




9 de Outubro de 2011



Estimulado por um mail que circula na Internet, fiz esta conversa com o meu neto que tem 13 anos, gosta de ver os noticiários na TV e me perguntou entre muitas coisas:

- Avô o Que é o BCE?


- O BCE é o banco central dos Estados da UE que pertencem à zona euro, como é o caso de Portugal.


- E donde veio o dinheiro do BCE?


- O dinheiro do BCE, ou seja o capital social, é dinheiro de nós todos, cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim, à Alemanha correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 Estados da UE contribuiram com 30%.


- Então, se o BCE é o banco destes Estados pode emprestar dinheiro a Portugal, ou não? 


- Não, não pode.


- Porquê?! 


- Porquê? Porque... porque... são as regras.


- Então, a quem pode o BCE emprestar dinheiro?


- A outros bancos, a bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.


- Ah percebo, então Portugal, ou a Alemanha, quando precisa de dinheiro emprestado não vai ao BCE, vai aos outros bancos que por sua vez vão ao BCE.


- Pois.

- Mas para quê complicar? Não era melhor Portugal ou a Grécia ou a Alemanha irem directamente ao BCE?
- Bom... sim.... mas... assim os banqueiros não ganhavam nada nesse negócio!


- Agora não percebi!!..


- Sim. O BCE de Maio a Dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países do euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos, a 1%, e esse conjunto de bancos emprestaram ao Estado português e a outros Estados a 6 ou 7%.


- Mas isso assim é um "negócio da China"! Se dinheiro do BCE é dos Estados porquê haver intermediários a ganhar balúrdios? E quem paga somos nós, não é?


- De facto, os bancos privados ganharam com o empréstimo a Portugal uns 3 ou 4 mil milhões de euros.


- Isso é um verdadeiro roubo... tanto mais que o Estado português se endividou em grande parte para salvar bancos privados. Com esse dinheiro escusava-se até de cortar nas pensões, no subsídio de desemprego ou de nos tirarem parte do 13º mês.


- De facto os Governos dão o nosso dinheiro ao BCE para eles emprestarem aos bancos a 1%, para depois estes emprestarem a 5 e a 7% ou mais, como na Grécia, aos Estados que são donos do BCE.


- Mas, e os nossos Governos aceitam uma coisa dessas?


- Os nossos Governos... estão a cumprir as exigências dos banqueiros e mendigam favores... quem tem a massa é quem manda. Essa coisa a que chamam sistema financeiro capitalista, transformou o mundo da finança num casino mundial, onde quem tem dinheiro é que manda e faz a regras do jogo.




11 de Setembro de 2011


Recebi um comentário aos meus textos sobre o 11 de Setembro de 1973 que passo a transcrever:
"No ultimo mês de Maio estive no Chile e pude perceber que lá à imagem do que se faz por cá tenta-se - e até certo ponto conseguem - branquear a historia daquele povo e do país. Estive em Santiago e Valparaíso, esta ultima é a terra natal de Salvador Allende e não se vislumbra qualquer referência a uns dos seus filhos mais pródigos. Mesmo em Santiago apenas existe uma estatua, em La Moneda, referente a Allende. Mais grave do que isso é o facto de não se falar do periodo Allende para - segundo eles - esquecer o periodo Pinochet, e assim tanto nas escolas como em lugares públicos visitados e frequentados por milhares de pessoas todos os anos passa-se por cima deste periodo tão marcante e importante da historia do Chile. Páginas e páginas de acontecimentos históricos ficam em branco, como se nada de relevante se tivesse passado, como se a historia terminasse com a eleição de Allende e retomasse o seu curso normal anos depois com o fim da ditadura de Pinochet. Mas reparei também que existe um forte movimento revolucionário que não aceita a tentativa de branqueamento que se faz e que ainda agora retoma a luta pela verdade historica do Chile com o processo Pablo Neruda e com o seu assassinato. Participei - a convite da Juventude Comunista do Chile numa iniciativa de preparação do seu Congresso, na UCACH, e lá estavam as referências a Allende, Pablo Neruda e Vitor Jara entre muitos outros. Por isso, para o povo do Chile a luta continua e hoje mais do que nunca faz sentido recordar o 11 de Setembro de 1973. Chove em Santiago ficará para sempre como um dia negro da historia da humanidade e de todos os povos em luta contra a repressão e a opressão imperialista." 
Jorge


20 de Agosto de 2011


Uma "conversa" feita com excertos de um texto do Professor Universitário brasileiro João Quartim de Moraes

Líbia resiste à agressão neocolonial


Pouco sabemos do que se passa na realidade

A mando das cadeias de informação "a mediática colonialista decretou silêncio a respeito dos crimes de guerra que os trombadões de Paris, Londres e adjacências estão cometendo na Líbia. O advogado Jacques Vergès, um dos mais notáveis protagonistas da luta anti-colonialista do último meio século, visitando Trípoli em 30 de maio, afirmou que iria processar Sarkozy por crime contra a humanidade. (...)

Não se compreende a posição amorfa dos franceses
Vale lembrar que (...) o Exército colonial francês matou cerca de um milhão de argelinos durante a guerra de libertação nacional.(...)

E a fantochada do reconhecimento do CNT
Os governos colonialistas reconheceram prontamente esse « Conselho » porque sabiam que ele se compunha de um bando de bonecos de mola dispostos a todas as concessões. Frau Merckel não gasta um tostão à toa, como sabem os gregos por experiência própria. Se recentemente liberou cem milhões de euros para os “rebeldes”, é porque está confiante em que esse investimento será amplamente compensado.  

O apoio que falta aos rebeldes dá a Nato com poderosos meios
Graças ao forte, constante e criminoso apoio aéreo fornecido pela Otan, os jagunços líbios têm progredido no terreno. Em 14 de julho, desfecharam nova ofensiva sobre o porto petroleiro de Brega, que já haviam ocupado e de onde tinham sido desalojados por um contra-ataque das forças do governo. A batalha pela posse da cidade prossegue. 

Como acabará esta desumana guerra?
É difícil fazer prognósticos sobre o curso e o desfecho do confronto, mas desde logo o presidente da França e outros pistoleiros fanfarrões, como seu ministro do Exterior Alain Juppé, que tinham anunciado uma intervenção rápida, de algumas semanas (segundo eles o bastante para derrubar Khadafi), estão engolindo suas bravatas. 

O texto na integra pode ser lido em: http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=4168&id_coluna=24

8 de Agosto de 2011


Somália - Uma conversa com 
Mahad Omar




Nos últimos meses, temos sido bombardeados com notícias sobre a Somália e os seus «piratas». 

Mahad Omar, médico, somali, que vive em Londres, em entrevista sobre os chamados "piratas" do mar da Somália.

Diz Mahad Omar: "Nós não lhes chamamos «piratas somalis». Chamamos-lhes «patriotas somalis» ou «guarda costeira da Somália». Como devem saber há uma presença maciça e ilegal de navios europeus e asiáticos que despejam resíduos tóxicos e nucleares nas águas da Somália e fazem pesca ilegal, e os pescadores somalis não conseguiam obter peixe. Queixámo-nos à União Europeia e às Nações Unidas e ninguém nos escutou". 

RG: Foi então que os pescadores somalis e a população decidiu defender a sua costa.

Na Somália tivemos uma guerra civil de cerca de dezoito anos, que teve diferentes fases. A vantagem geográfica da Somália tem atraído muitos interesses estrangeiros – sobretudo dos Estados Unidos, da União Europeia, da Liga Árabe e dos restantes países africanos. A CIA tem financiado alguns dos mais importantes «senhores da guerra» somalis, fracções da guerra civil de base tribal, e forneceram, a seguir ao 11 de Setembro, até 18 milhões de dólares para travarem a guerra pelo governo americano. Como estes senhores da guerra têm aterrorizado os civis somalis, a população comum da Somália virou-se contra eles e houve uma revolução social contra esses senhores da guerra. Quem liderou a revolução foram os Tribunais Islâmicos, que restauraram a paz na Somália. Em resposta a isto tivemos a invasão americana e de tropas terrestres etíopes que desmantelaram os Tribunais Islâmicos. Os Tribunais Islâmicos tinham conseguido com sucesso controlar a pirataria, ao terem criado uma Guarda Costeira formal e legítima. Mas uma vez que os Tribunais Islâmicos somalis foram desmantelados, deixou de haver um governo em funcionamento que possa efectivamente representar os somalis internacionalmente.

RG: A narrativa transmitida sobre o assunto nos media dominantes insiste contudo na existência de relações íntimas entre a «pirataria», a União dos Tribunais Islâmicos, as milícias Al-Shabab e a Al-Qaeda…

Isso não é verdade. Trata-se de pescadores absolutamente normais. A verdadeira pirataria aqui é a americana, que com os seus cargueiros, os seus porta-contentores, os seus porta-aviões, está a destruir a vida destes pescadores, impedidos de pescar os peixes do oceano Índico e do mar Vermelho da Somália. A verdadeira pirataria, aquela que está a agir cobardemente, é a americana, não a das forças navais somalis. E vocês estão cientes de que, para justificar tais acções, é necessário produzir ilusões, enganos que impeçam as pessoas de ver e ouvir a verdade. A Somália teria de facto um governo, mas o que nós temos é cargueiros americanos estacionados ao largo da costa da Somália e literalmente destruindo comunidades piscatórias, usando mísseis balísticos, aviões B53 e C130, bombardeiros enormes destruindo aldeias minúsculas.
Mas ainda assim não conseguem conter os somalis comuns e impedi-los de defender as suas águas. E acreditem ou não, aqueles pequenos somalis, nos seus barquinhos … temos orgulho neles. E todos os que morram são heróis.

RG: Quais são os papéis desempenhados por outros Estados africanos nesta situação? Sabemos que foi criada por um conjunto de países uma articulação designada «Comando Djibuti» visando o combate à «pirataria» …

Todos os países desenvolvidos têm lá forças e não conseguem conter o problema. O Quénia e o Djibuti estão a tentar aproveitar-se da situação pondo-se ao serviço dessas forças. O Djibuti é um pequeno país que vive da assistência dos Estados Unidos e da França, e estes países têm lá bases militares dada a natureza estratégica daquela zona. A Somália está a viver um cerco. É por isso que estão a tentar pressionar a Somália, mas acreditem ou não há uma revolução a ter lugar, é imparável, vai continuar, não importa o que possam fazer o Quénia, o Djibuti, os Estados Unidos, vai acontecer. Por que as pessoas querem.
Aqueles que estão na Somália, em Mogadíscio – por exemplo, a minha mãe vive lá, falei com ela a noite passada – estão fartos da interferência de outros países e das superpotências e estão cansados do que outros estão a impor-lhes. Por isso estão a organizar-se com o objectivo de tentar efectivamente legitimar o seu governo que não está em funções.

RG: Enquanto somali, o que sente quando vê sectores da esquerda europeia a defender uma invasão da Somália?

É triste.

RG: Pensa que a «pirataria» é uma desculpa para parar a revolução e a resistência?

Sim. A Somália é um dos países mais estratégicos de África. É a porta das traseiras do Médio Oriente, permite controlar os fluxos de petróleo – cerca de 40% do petróleo do Mundo atravessa o mar Vermelho e o oceano Índico da Somália. Os «piratas» são na verdade forças legítimas de resistência.
E o pirata sou eu?
Quando em 2004 as câmaras revelaram ao mundo as tragédias do tsunami, uma outra tragédia permanecia bem longe das câmaras. Desta feita, a Natureza não era a causa, mas apenas a sua revelação: no litoral da Somália o tsunami fazia aparecer à luz do dia aquilo que as democracias ciosas dos seus Estados de direito haviam escondido bem no fundo do mar. Toneladas de lixo tóxico e radioactivo foram dar às costas do país. Quem busca saber a origem desse flagelo não precisa ir muito longe. Nas palavras de Nick Nuttall, porta-voz do Programa do Ambiente das Nações Unidas, explica a questão de uma forma muito simples e clara: despejar lixo tóxico em África custa cerca de 8 dólares a tonelada, ao passo que tratar de forma segura o mesmo lixo nos EUA ou na Europa custa cerca de 1000 dólares a tonelada. O negócio é demasiado lucrativo e pouco importa a galeria de horrores que origina, como todas as doenças ligadas a este mercado. Business as usual. Assim, as vidas de milhares de pessoas, incluindo a da jornalista italiana Ilaria Alpi e do operador de câmara Miran Hrovatin, da RAI 3, mortos na Somália enquanto investigavam a relação do Exército italiano e dos programas de ajuda ao desenvolvimento da Itália com o tráfico de armas e a transferência de lixo tóxico para esse país, podem ser contabilizadas nesse negócio «legítimo». Acrescentamos a isso um facto também bastante conhecido nessas paragens: as águas da Somália, ricas em peixe, são também ricas em verdadeiros piratas europeus dedicados à pesca ilegal. Assim, a verdade primordial calada é que a principal acção dos chamados piratas da Somália (pescadores somalis) é fazer as vezes de guarda costeira contra a pesca ilegal que fornece o sushi europeu. Foi contra essa guarda costeira informal que 70 nações mobilizaram os seus vasos de guerra na caça aos «piratas» das lanchas que aparecem nas nossas televisões. 

Renato Guedes



6 de Junho de 2011
Uma Lição de Economia





Parte II







3 de Junho de 2011






31 de Maio de 2011





29 de Maio de 2011


Ary dos Santos





23 de Maio de 2011
De uma página do Facebook  retirei esta conversa instrutiva:
Uma explicação

A Primavera esmerou-se. Um sol agradável acariciava-nos na esplanada do café à beira da minha porta. A chegada do Senhor Antunes, o mais popular dos meus vizinhos, deu ensejo a uma lição sobre Europas e finanças a nós todos que disto pouco ou nada percebemos.
- Oh Sô Antunes explique lá isso do Banco Central Europeu, aqui à rapaziada do Café.
- Então vá, vá lá, Só por esta vez. O BCE é o banco central dos Estados da UE que pertencem à zona euro, como é o caso de Portugal.
- E donde veio o dinheiro do BCE?
- O capital social, o dinheiro do BCE, é dinheiro de nós todos, cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim à Alemanha correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 Estados da UE contribuiram com 30%.
- E é muito, esse dinheiro?
- O capital social era 5,8 mil milhões de euros mas no fim do ano passado foi decidido fazer o 1º aumento de capital desde que há cerca de 12 anos o BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de 2011 e no fim de 2012 até elevar a 10,6 mil milhões o capital do banco.
- Então se o BCE é o banco destes Estados pode emprestar dinheiro a Portugal, não? Como qualquer banco pode emprestar dinheiro a um ou outro dos seus accionistas.
- Não, não pode.
- ??
- Porquê? Porque... porque, bem... são as regras.
- Então a quem pode o BCE emprestar dinheiro?
- A outros bancos, já se vê, a bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.
- Ah percebo, então Portugal, ou a Alemanha, quando precisa de dinheiro emprestado não vai ao BCE, vai aos outros bancos que por sua vez vão ao BCE e tal.
- Pois.
- Mas para quê complicar? Não era melhor Portugal ou a Grécia ou a Alemanha irem directamente ao BCE?
- Não. Sim. Quer dizer... em certo sentido... mas assim os banqueiros não ganhavam nada nesse negócio!
- ??!!..
- Sim os Bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE de Maio a Dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países do euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos XPTO, a 1% e esse conjunto de bancos XPTO emprestaram ao Estado português e a outros Estados a 6 ou 7%.
- Mas isso assim é um "negócio da China"! Só para irem a Bruxelas buscar o dinheiro!
- Neste exemplo ganharam uns 3 ou 4 mil milhões de euros. E não têm de se deslocar a Bruxelas, nem precisam de levantar o rabo da cadeira. E qual Bruxelas qual carapuça. A sede do BCE é na Alemanha, em Frankfurt, onde é que havia de ser?
- Mas então isso é um verdadeiro roubo... com esse dinheiro escusava-se até de cortar nas pensões, no subsídio de desemprego ou de nos tirarem o 13º mês, que já dizem que vão tirar...
- Mas, oh seu Zé, você tem de perceber que os bancos têm de ganhar bem, senão como é que podiam pagar os dividendos aos accionistas e aqueles ordenados aos administradores que são gente muito especializada.
- Mas quem é que manda no BCE e permite um escândalo destes?
- Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em primeiro lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.
- Deixa ver se percebo. Então os Governos dão o nosso dinheiro ao BCE para eles emprestarem aos bancos a 1% para depois estes emprestarem a 5 e a 7% aos Governos donos do BCE?
- Não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas, os bancos levam só uns 3%. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que estamos de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar é que levam juros a 6%, a 7 ou mais.
- Nós somos os donos do dinheiro e nós não podemos pedir ao nosso banco...
- Nós, nós, qual nós? O país, Portugal ou a Alemanha, é composto por gentinha vulgar e por pessoas importantes que dão emprego e tal. Você quer comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por mês ou um calaceiro que anda para aí desempregado, com um grande accionista que recebe 5 ou 10 milhões de dividendos por ano, ou com um administrador duma grande empresa ou de um banco que ganha, com os prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não se pode comparar.
- Mas e os nossos Governos aceitam uma coisa dessas?
- Os nossos Governos, os nossos Governos... mas o que é que os governos podem fazer? Por um lado são na maior parte amigos dos banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito razoável quando lhes faltarem os votos. Em resumo, não podem fazer nada, senão quem é que os apoiava?
- Mas, oh que porra de gaita então eles não estão lá eleitos por nós?
- Em certo sentido sim, é claro, mas depois... quem tem a massa é que manda. Não viu isto da maior crise mundial de há um século para cá?
Essa coisa a que chamam sistema financeiro que transformou o mundo da finança num casino mundial como os casinos nunca tinham visto nem suspeitavam e que ia levando os EUA e a Europa à beira da ruína? É claro, essas pessoas importantes levaram o dinheiro para casa e deixaram a gentinha que tinha metido o dinheiro nos bancos e nos fundos a ver navios. Os governos então, nos EUA e cá na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram que repor o dinheiro.
- E onde o foram buscar?
- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. Donde é que havia de vir o dinheiro do Estado.
- Mas meteram os responsáveis na cadeia.
- Na cadeia? Que disparate. Então se eles é que fizeram a coisa, engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar o remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's, uma dessas agências de rathing que classificaram a credibilidade de Portugal para pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram passados à reforma. O Sr. McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indemnização de 10 milhões de dólares a que tinha direito.
- Oh Sor Antunes, então como é? Comemos e calamos?
- Isso já não é comigo, eu só estou a explicar. 




3 de Maio de 2011





29 de Abril de 2011

Desta vez não é minha a conversa. É de Jorge de Sena com os filhos, afinal filhos de todos nós sobre os "fuzilamentos de Goya" célebre pintura que também fala.




5 de Fevereiro de 2011  17:40
Tenho conversado pouco "ao vivo". No entanto tenho conversado com os leitores deste blogue, na Internet, tenho lido mais e ouvido alguma música que desconhecia, por influência dessas conversas.
Lembro-me de algumas conversas sobre os objectivos de vida, objectivos tão diferentes quanto diferentes são as pessoas. O objectivo da excelência e o da felicidade, tantas vezes contraditórios.
Há quem não possa sequer ter esses sonhos, pois, os de comer, vestir-se e simplesmente viver para trabalhar, ocupam todas as preocupações das suas vidas vazias. 
Oiçamos, pois que assim canta:




25 de Janeiro de 2011  15:45

A propósito de um email com texto de Eduardo Prado Coelho

-Lembras-te daquele comentário de Eduardo Prado Coelho que andou por aí a circular na net?
-Foram tantos...
-Aquele que tinha o título "Precisa-se de matéria prima para construir um País"...
-Ah! Sim lembro-me bem. Eu não gostei.
-Mas parece que se aplica agora mais uma vez.
-Depende da leitura que tu faças do que ele disse.
-Ele disse que "A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo."
-Pois lembro-me bem mas continuo a não concordar.
-Então, dizias mal do Cavaco e ele foi eleito à primeira volta, parece que deverias concordar que é o povo que não sabe o que quer.
- Posso admitir que haja muita falta de consciência politica na maioria das pessoas. Mas o EPC, com a desvalorização que fazia do povo, esquecia-se da grande responsabilidade que têm os que estão no Governo e nas maiorias que nos "governam". Porque é que o povo escolhe os políticos errados? Isso não disse ele. Lembra-te que ele atirava só para as costas do povo todas as responsabilidades partindo do princípio que estamos numa Democracia e que  é o povo que escolhe os políticos.
- E é. Portanto em última análise a responsabilidade é do povo.
- Isso da Democracia tem muito que se lhe diga. Não há Democracia quando se convence o povo de que não há outras escolhas possíveis. Quando se mete medo às pessoas com os papões que Salazar usava.
- Isso já foi há muito tempo.
- Mas ainda hoje perdura nas cabeças das pessoas. E até a igreja vai lembrando, para manter vivos esses papões. E repara que a igreja se mete na política e tem muita influência em muitas zonas do país.
- É pá, agora não venhas meter a igreja nisto.
- Foi só uma chamada de atenção, não te ofendas. Mas voltando ao que disse EPC recorda que ele foi mais longe na responsabilização do povo. Ele disse que pertencia a um povo que considera "a Esperteza a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais."
- E é verdade! O povo quer é ser como os oportunistas e os corruptos e enriquecer sem ter que trabalhar.
- É verdade só em parte.  Tendo razão nas constatações que faz tira conclusões bastante erradas na minha opinião. Não se trata de avaliar competências. Nem o que o Sócrates, ou outro qualquer, faz tem a ver com o seu grau de inteligência, de esperteza ou de competência.
Tratam-se de interesses e opções políticas a que eles estão comprometidos, apesar de nas campanhas eleitorais serem todos pelo povo.
- Mas a moral do povo também não é melhor.
- Quanto aos valores que o EPC refere, tendo razão que hoje em dia os valores estão todos abandalhados, eu creio que ele tira a conclusão contrária: que é o povo que não merece os políticos que tem. Enfim, inverte os raciocínios partindo de premissas que parecem certas.
- Porque é que tudo isto acontece? Porque é que as pessoas não lêm?
- Eu respondo com outra pergunta: Porque é que a Cultura, quer nos jornais, quer na TV, e até em muitas instituições como as autarquias, fomentam o PIMBA? 
- Porque o Pimba dá mais audiências e mais votos.
- E porque é que o PIMBA dá mais votos? Porque é que os jornais e a TV se regem pelas audiências e pelos sensacionalismos?
- São de facto as pessoas que têm os políticos que merecem. É isso que ele quer dizer. Em democracia é assim... nada é perfeito. E o povo dum modo geral, é exactamente como foi descrito pelo EPC. Não vejo como interpretas que o EPC tenha dito que "o povo que não merece os políticos que tem". Quando ele diz: "o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates"...acho que o que ele quer dizer é bem diferente; que os políticos são parte integrante do povo e que sendo feitos da mesma massa, são como são; e os que vierem a seguir serão iguais. Que o problema  está em quem os lá pôs.
- Não concordo. É o povo que não presta e, portanto, os políticos também não? Então em Portugal só há PIMBAs???!!! 
- Compreende-se que um povo que rouba os jornais aos ardinas, os poucos que lêem jornais, claro, a não ser que seja para embrulhar as castanhas, queira eleger corruptos que também eles são o seu ideal na arte de bem roubar e corromper. Como diz o povo "se eu pudesse fazia o mesmo". É exactamente o que diz o corrupto "eu roubo mas faço obras" e ganha eleições. Viva o gamanço que qualquer dia ainda será motivo de um prémio Nobel. Os grandes ladrões são os competentes e admirados. Os pequenos ladrões que roubam jornais, clipes lápis e folhas de papel, esses ... cuidado!!! Esses, se forem apanhados, vão presos.
- Estas coisas já vêm de há muito. Lembra-te também das mensagens que circulam na net com um texto idêntico de Guerra Junqueiro em 1896, aliás um texto muito bem escrito, melhor que o de EPC e que dizia "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Só contradições. Tudo isto porque estamos centrados no que disse EPC e não no que de facto move tudo isto que é, por um lado a falta de consciência de muita gente, por outro os interesses económicos e financeiros que controlam a política e querem que o povo seja mantido na ignorância, para não ter capacidade crítica de destrinçar quem o engana. Eles convencem muita gente que são todos iguais, porque quem aparece nas televisões nos escândalos dos jornais são apenas os que estão ligados à direita. 
- Claro. Se dissessem que são todos bons ninguém acreditava.
- Pois é mas nem são todos bons nem todos maus. Há os que estão no poder ligados a interesses dos especuladores das finanças, e do grande capital e há os que defendem os interesses dos trabalhadores. A classificação é essa e que eles não querem que se saiba.
Vou fazer um texto sobre Democracia e colocar no meu blogue. Espero que seja uma contribuição sobre os problemas que estão na origem das "qualidades" do povo e as responsabilidades da cultura que vivemos. Se muitos estão a dormir, é preciso ajudá-los a acordar.